quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Asas

O sol se faz penumbra.
O que entra pela janela é só resto de um dia,
desse dia em que corto minhas asas
para nunca mais voar.

Tinha pressa de chegar,
esgotei todas as forças e ameacei cair várias vezes.
Meus pés formigavam,
minha boca seca, os olhos entreabertos
tentando reconhecer os lugares por onde passava.

Num desses descontroles toquei o chão.
O suor que de mim derramava caía forte na terra seca,
era dela uma esperança falsa, salobra,
condenando-a mais ainda em sua esterilidade.
Continuei.

Aqui estou.
Tiro da parede a espada.
Abro minhas asas.

Suspiro.
Com um só golpe, estilhaço-me a esquerda.
Minha dor já era tamanha que essa passa quase despercebida.
Corto a outra.

Entrego-me ao chão, junto a minhas asas.
Escorre-me uma última lágrima.

Como voar sem essas asas?
Com o sangue ainda a jorrar,
aos poucos, vou me levantando.

Do sol, só resta uma lembrança...



(sem saída)

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